Era o grito que mais se ouvia nos meses de Julho e Agosto de há cinquenta anos atrás e muitos mais. Em aparecendo o sinal na vigia, um foguete e uma pequena bandeira, preta ou branca ou preta e branca, sinal de baleia à vista, botes fora, ou botes fora e baleia à vista, um código que toda a gente conhecia, de tão antigo que era, E até o papagaio do Tomé, imitando a voz da mulher, gritava: Baleia, Tomé!
Toda a gente corria para as imediações do porto, mesmo aqueles que se encontravam nas terras altas a trabalhar e que, em vez de aproveitarem os caminhos e canadas, saltavam muros e paredes divisórias, por mais perto, para chegarem a tempo ao seu, que já se encontrava na rampa de varagem, trazido da “casa dos botes” para que não demorasse a arriada.
Completa a tripulação – oficial, trancador e cinco remadores, todos eles ocupando lugares certos no bote, lá seguiam caneiro fora, alguns deles recebendo aí as sacas ou cestas com a comida que as mulheres ou filhas haviam trazido de casa, também em corrida louca.
Inicialmente, não havia lanchas de reboque. Elas apareceram mais tarde, na década de vinte do século passado. A “Margarida”, destinada a recreio e as “Lourdes” e “Hermínia”, a cabotagem e que passaram a auxiliar na baleação.
Só em 1929 apareceu a “Zélia”. A propósito lê-se em “O Dever” (18-05-1929): No dia 21 de Abril foi lançada à água uma linda lancha com motor de grande força, destinada à pesca da baleia. Foi construída nesta Vila pelos habilíssimos artistas Manuel, Joaquim e António Francisco Machado, filhos do falecido artista Francisco José Machado.”
Mas voltemos à arreada: As lanchas de reboque tinham sido, entretanto, ocupadas pela tripulação respectiva: mestre, maquinista e marinheiro, e já aguardavam, a maioria das vezes, fora da carreira, os seus botes para os levar à zona onde haviam sido vistas as baleias, normalmente para os lados da Ponta da Ilha, guiadas pelos Vigias que, com um pano brando estendido na relva e uma fogueira, lhes davam a direcção certa da baleia ou do cardume, ou mesmo dos botes dos outros portos: Santa Cruz ou Calheta. E refiro-me ao tempo em que ainda não existiam os rádios que passaram a permitir a comunicação entre o Vigia e o Mestre da Lancha de reboque.
Foi a 15 de Agosto de 1948, quando a Silveira celebrava a Festa da Mãe de Deus.
A inauguração das comunicações radiofónicas , uma novidade para a época, levara à vigia da “Terra da Forca” imensas pessoas, interessadas em acompanhar as manobras da baleação.
Foi uma horrível decepção e uma angústia tremenda quando o Mestre da lancha comunicou ao Vigia que o Francisco Pereira Machado desaparecera levado pela linha do arpão que trancara uma baleia.
Mais tarde comunica o Mestre que a baleia acabara de ser trancada por outra canoa e, recolhendo a linha que ela arrastava, no final vinha o corpo do infeliz baleeiro.
Uma tragédia como algumas outras que aconteceram durante a actividade baleeira, que, apesar de se ter deixado de balear nestas ilhas, ainda se recordam com um misto de pesar.
Todavia, a actividade baleeira não parou. Infelizmente, já outros desastres mortais haviam acontecido. Uma actividade arriscada, praticada com certo heroísmo, e que teve um contributo notável na economia desta terra.
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